Apostando no ritmo brasileiro, associação da indústria da música promove as empresas nacionais na maior feira mundial do setor
A cidade: Frankfurt. Um frio intenso à noite, exigindo indumentárias apropriadas para não congelar uma mente quase carioca, que funciona bem a 30º (e acredite, era o começo do verão nas terras germânicas). O idioma: o alemão, meio complicado de entender, mas bem interessante de ouvir. Adianto que o objetivo de estar ali era nobre e sobrepusera, com grande alegria, todas essas pequenas dificuldades (pequenas mesmo): visitar pela segunda vez a Musikmesse (veja como foi a cobertura da edição 2009). A maior feira do mundo de instrumentos e equipamentos musicais abriu suas portas entre os dias 24 e 27 de março, e o meu papel foi o de trazer, em primeira mão, as novidades do mercado, publicadas na edição de hoje da revista Digital do Globo, incluindo também o nosso querido blog Overdubbing.
Confesso que, na véspera do evento, senti um orgulho danado ao ver a nossa bandeira tremulando, dentre as de várias nações importantes, em frente ao moderno centro de convenções da Messe Frankfurt (à direita, e ao fundo, o imponente prédio da Messe). Um clichê me veio logo à cabeça: “é inegável o talento do músico brasileiro”, e até aí nenhuma novidade.
Mas a bandeira que lá estava representava um outro lado da nossa indústria cultural. Um lado que pude conhecer um pouco melhor por meio do sério trabalho promovido por um órgão chamado Anafima(Associação Nacional dos Fabricantes de Instrumentos Musicais e Áudio), que, com o apoio da APEX (Agência de Promoção às Exportações), vinculada aoMDIC do governo brasileiro, representou na Alemanha oito empresas nacionais. São elas a Alba (baquetas), Bends (gaita), Musical Izzo (percussão), Octagon e Orion Cymbals (pratos para bateria), RMV (bateria e percussão), Cabos Santo Angelo (confira visita à fábrica) e Meteoro Amplificadores.
É lógico que admirar a bandeira me fez refletir algumas coisas. Uma delas foi a de questionar qual é a posição do Brasil no contexto internacional da indústria da música. A segunda diz respeito à importância da Musikmesse para nós. E foi atrás dessas respostas que conversei com alguns empresários brasileiros que participaram da feira internacional, buscando entender como funciona a engrenagem dessa Torre de Babel, movida exclusivamente por um único idioma: a música. E eis que começava a delinear minha primeira resposta, pois foi justamente do nosso ritmo que a Anafima apostou suas fichas para chamar atenção na Alemanha. Uma espécie de propaganda legitimamente verde e amarela, representada por nossas fabricantes de percussão, como a RMV, Octagon, baquetas Alba e Izzo, e trazendo na carona as empresas de áudio, incluindo Santo Angelo e Meteoro.
Durante o evento, conversei com Rogério Raso (à esquerda), diretor geral da Santo Angelo; e Alselmo Rampazzo, diretor da RMV, respectivamente tesoureiro e presidente da Anafima. Na ocasião, pude entender um pouco melhor o papel da associação no estímulo às exportações e como a entidade se tornou uma ferramenta essencial na representação da nossa indústria da música junto aos poderes constituídos. Explicando em miúdos, uma espécie de porta-voz, buscando fortalecer o mercado brasileiro de música ao abrir espaço dentro e fora do país para os nossos instrumentos musicais, equipamentos de áudio e acessórios.
Rogério Raso lembra da importância de se realçar a bandeira nacional nos estandes da Anafima. “Temos orgulho de ser brasileiros. Queremos reforçar na feira a questão do ritmo brasileiro, que é muito diferente do africano, por exemplo. O ritmo brasileiro tem o poder de encantar o europeu, e foi por meio da percussão que podemos agregar ainda mais novos adeptos e admiradores da nossa cultura durante o evento, trazendo na carona o áudio”.
Como estratégia, e juntando esforços com a associação de produtores de música BMA(Brasil, Música e Artes), o diretor da Santo Angelo explica que a Anafima busca promover gêneros como o maracatu, por exemplo. “Pensamos em como inserir esses grupos em festivais independentes, movimento forte não só na Europa, como em todo mundo. Quanto mais grupos estiverem representando o país nesses festivais, mais fortalecida fica a nossa cultura no exterior. São os nossos músicos e instrumentos ganhando o mundo, ou você acha que faz sentido o músico brasileiro tocar com instrumentos importados?”.
Destaque para a bandeira do Brasil nos estandes da Anafima
REPRESENTATIVIDADE DA ANAFIMA NO EXTERIOR
Para Anselmo Rampazzo (à direita), presidente da associação, a Musikmesse é importante para reforçar o contato das empresas nacionais com os distribuidores e revendedores estrangeiros, além de abrir novos mercados, principalmente do leste Europeu. “Este ano, investimos na bandeira da percussão, apostando justamente na credibilidade que o público dá ao músico e à música brasileira. A percussão faz parte da nossa cultura, é algo nativo do povo. Sendo assim, exportamos aquilo que é real para gente”, explica ele.
Quanto à participação brasileira na feira, Anselmo lembra que é muito difícil para um empresário deixar o seu país e trazer para a Europa o seu produto embaixo do braço. “Não existe mais lugar para amadores no mundo, temos que ser profissionais. A Anafima tem um trabalho importante nesse quesito. Cuidados do espaço, do transporte, da montagem e hospedagem. Percebo que as empresas estão vindo e acreditando cada vez mais no trabalho da associação”.
Fundada em 2001, a Anafima não tem o papel de policiar os empresários, e sim de organizá-los, trazendo mais negócios e clientes de outros países, como explica Alselmo. Além da Musikmesse, são estudadas formas de atuar em feiras de outros países, incluindo a China, por exemplo. “É preciso lembrar que existe mercado em todo mundo e que os produtos brasileiros atingiram um nível alto. Dentro desse contexto, a associação tem a missão de conscientizar o empresário do ramo musical, transformando-o em um profissional da exportação, com capacitação, treinamento e informação”, destaca o diretor da RMV.
Depois que retornei da Musikmesse, pude perceber como todo associativismo é importante. Só assim os interesses coletivos podem ser colocados em prática, fazendo com que determinado grupo, ou segmento, quando cooperado, possa se impor perante a sociedade. Para 2010, com as crises se acalmando e as novas leis da música nas escolas em vigor, nosso mercado da música deve ganhar outra dimensão. Dessa maneira, associações como a Anafima, por exemplo, tornam-se essenciais em um mercado que já representa 1% da economia do país, movimentando cerca de 1.2 bilhões em negócios por ano.
Fonte: Overdubbing