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O dilema da madeira de Pau-Brasil: Um chamado para a responsabilidade e unidade global

Como presidente da ANAFIMA – Associação Brasileira da Indústria da Música, me posiciono como um defensor firme do manejo sustentável de nossos recursos naturais. Hoje, trato de uma questão urgente que impacta não apenas o Brasil, mas ressoa em toda a comunidade global: a situação grave envolvendo a madeira de Pau-Brasil (nome científico: Caesalpinia echinata), um símbolo de nosso patrimônio cultural que enfrenta desafios ambientais significativos.

A madeira de Pau-Brasil, altamente procurada para a fabricação de arcos para instrumentos de corda, desempenha um papel crucial no âmbito da música clássica. Atualmente, ela está listada no Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) para regular seu comércio e garantir a sustentabilidade. Apesar desses esforços, a madeira de Pau-Brasil ainda cai vítima de atividades de contrabando ilegal, especialmente para a Europa e Ásia. Esta tendência alarmante, destacada por nossas investigações e diálogos com entidades como o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que é a agência federal responsável pela proteção ambiental e uso sustentável dos recursos naturais do Brasil, e o Ministério do Meio Ambiente brasileiro, sublinha a necessidade urgente de ação coletiva.

Além de insights obtidos dos órgãos ambientais do Brasil, uma recente visita a uma feira na China me expôs a uma cena desanimadora: dezenas de estandes vendendo descaradamente arcos e toras de Pau-Brasil. Testemunhar tal desrespeito flagrante pelas restrições e regulamentações que nos esforçamos para impor no Brasil é profundamente perturbador. A percepção de que a madeira brasileira está sendo contrabandeada além da China para compradores europeus agrava essa preocupação.

Enquanto a exploração ilegal de Pau-Brasil continua desenfreada, também percebemos a necessidade de ações colaborativas significativas para mitigar substancialmente o comércio ilegal. Se tais atividades persistirem, o Conselho da ANAFIMA está preparado para endossar a inclusão da madeira de Pau-Brasil no Apêndice I da CITES, uma medida que limitaria drasticamente seu comércio global. Essa restrição potencial levanta preocupações críticas sobre o impacto nos músicos profissionais dependentes de arcos de Pau-Brasil, enfatizando a necessidade de uma estratégia equilibrada que proteja nossos tesouros naturais sem comprometer a expressão cultural e artística.

A preservação da madeira de Pau-Brasil simboliza uma responsabilidade compartilhada que vai além das fronteiras do Brasil, envolvendo a comunidade internacional. Alcançar a sustentabilidade para a madeira de Pau-Brasil, garantindo sua disponibilidade para a produção de instrumentos musicais, exige um esforço conjunto de governos, organizações de conservação, músicos e a indústria da música.

Em conclusão, o dilema da madeira de Pau-Brasil é um claro chamado para a responsabilidade e solidariedade globais. Ele nos lembra que a conservação da biodiversidade de nosso planeta é uma obrigação coletiva, exigindo cooperação, compreensão e ação de todos os cantos do mundo. Vamos nos unir para garantir que as melodias produzidas por nossas cordas ecoem não com as reverberações da degradação ambiental, mas com a harmonia da gestão consciente.

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